INSS diz que mais de 1 milhão já contestaram descontos indevidos e pediram reembolso
Entidades terão de comprovar eventual autorização; 1,7% dos aposentados e pensionistas reconheceu abatimentos
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília

O INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) informou nesta quinta-feira (15) que 1.051.238 (98,3%) de aposentados e pensionistas já informaram ao órgão não reconhecer descontos feitos por entidades, como sindicatos e associações, e pediram o reembolso dos valores. O sistema está disponível para contestação desde essa quarta (14). Segundo o órgão, 1.069.201 beneficiários com abatimentos aram a plataforma — desses, 17.963 (1,7%) reconheceram os descontos.
Os números incluem os dados de quarta e foram atualizados até às 17h desta quinta. Confira os resultados de cada dia:
Quarta-feira (14), primeiro dia de o
- Total de pessoas com descontos que aram a plataforma: 480.660
- Não reconheceram os descontos e pediram a devolução: 473.940 pessoas
- Reconheceram os descontos e não pediram a devolução: 6.720 pessoas
Quinta-feira (15), segundo dia de o
- Total de pessoas com descontos que aram a plataforma: 588.541
- Não reconheceram os descontos e pediram a devolução: 577.298 pessoas
- Reconheceram os descontos e não pediram a devolução: 11.243 pessoas
Os beneficiários que alegaram não ter conhecimento dos descontos podem solicitar a restituição dos valores. A partir disso, o INSS vai acionar a entidade responsável pela cobrança, que terá 15 dias úteis para apresentar a documentação que comprove a autorização do beneficiário ou providenciar o ressarcimento.
Segundo o INSS, todas as 41 entidades previdenciárias cadastradas na autarquia foram contestadas pelos beneficiários que tiveram alguma cobrança.
Nessa quarta, em coletiva de imprensa, o presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, destacou que o limite de 15 dias úteis não é para o requerimento de devolução.
“Importante frisar: esse prazo de 15 dias úteis não é para o cidadão requerer. O prazo é para a instituição, para a entidade, juntar a documentação ou realizar o pagamento. Esse pagamento não vai para a conta do segurado. Ele vai para a conta do Tesouro, e o INSS vai ressarci-lo pagando em folha, na sua conta que ele recebe o benefício”, destacou Waller Júnior.
Próximos os
Se a entidade não apresentar comprovante de autorização de desconto do beneficiário, deverá realizar o ressarcimento ao INSS por meio de GRU (Guia de Recolhimento da União) específica.
Após o recebimento, o INSS depositará o valor diretamente na conta bancária vinculada ao benefício.
Por outro lado, se a associação comprovar a autorização, o beneficiário será informado e poderá, se desejar, apresentar contestação.
Caso a entidade não faça o ressarcimento nem comprove a regularidade dos descontos, o caso será encaminhado à AGU (Advocacia Geral da União) para as medidas legais de cobrança e ressarcimento.
“Não informe nada a ninguém, não assine nada a ninguém, não abra link, não dê qualquer tipo de informação”, frisou o presidente do INSS.
Beneficiários não têm prazo para responder
Para verificar se foram alvo de algum desconto nos benefícios, aposentados e pensionistas devem ar a sua conta pelo aplicativo Meu INSS ou ligar para a autarquia pela central de atendimento 135.
Segundo o presidente do INSS, quem ainda não conseguiu ver se teve alguma cobrança na sua conta não precisa ter pressa para fazer isso.
“Tenham calma. Logicamente, no primeiro dia há uma expectativa maior, e todo mundo começou uma correria para poder ar o aplicativo, ar 135, mas isso não tem prazo para terminar. Todos serão ressarcidos. Então, fiquem tranquilos a esse respeito”, disse Waller Júnior.
Fonte dos recursos para ressarcimento
O presidente do INSS disse que, a princípio, o órgão quer usar recursos bloqueados das contas de associações envolvidas na fraude para indenizar as vítimas — segundo Waller Júnior, a Justiça já autorizou o bloqueio de, ao menos, R$ 1 bilhão.
No entanto, ele destacou que essa decisão vai depender da quantidade de pessoas efetivamente afetadas pelo esquema.
“O que a gente precisa saber? Fonte de custeio. A fonte primária vai ser os bens bloqueados, dinheiro apreendido, dinheiro recuperado? Inicialmente sim. A gente vai esperar a venda [de bens bloqueados] para poder fazer o pagamento? Isso vai ser estudado depois que a gente olhar o quanto a gente tem de dano às pessoas”, comentou.
“A gente está levantando isso, e está sendo feito um pedido judicial para que possa o mais rápido possível utilizar esses bens, utilizar o dinheiro e fazer a venda antecipada com a possibilidade de a istração pública depois, havendo a inocência de alguém, fazer o ressarcimento à aquela pessoa”, completou.
Possível busca ativa
O presidente do INSS garantiu, ainda, que todos os aposentados e pensionistas que tiveram descontos indevidos serão ressarcidos “no menor tempo possível”. Ao reforçar que os beneficiários não têm prazo para contestar eventuais abatimentos irregulares, Waller Júnior destacou que não é preciso ter pressa para procurar o órgão.
“Todos serão ressarcidos no menor tempo possível. Não precisa correr, não é uma corrida contra o tempo. A gente não vai fechar o sistema de uma hora para a outra falando ‘quem não pediu não vai ter essa indenização’”, esclareceu.
Waller Júnior também afirmou que o órgão não descarta fazer uma busca ativa das vítimas da fraude em benefícios de aposentadorias e pensões. Ele garantiu que todos os beneficiários que tiveram descontos terão a oportunidade de informar ao INSS se os abatimentos feitos por associações foram autorizados.
“Não vamos virar as costas para ninguém. Se determinado grupo não conseguiu ar o Meu INSS, o disque 135 ou muitas vezes não chegou a informação de que houve descontos, a gente vai buscá-los, pelos meios que o INSS possui, os meios oficiais. Ninguém fala pelo INSS. Temos de ar a limpo essa situação, por isso não fechamos [restringiram o o ao sistema] só para as 12 entidades [apontadas pela operação da Polícia Federal], por isso que não fechamos para quem começou os descontos em 2019 [período informado pela PF]. Todo e qualquer associado pode contestar a situação”, informou Waller.
Regras serão revistas
O dirigente também afirmou que os descontos automáticos feitos nas pensões e aposentadorias de beneficiários do órgão têm sido revistos. Waller Júnior declarou que o retorno dos abatimentos tem sido estudado internamente pelo governo federal. Os descontos na folha de aposentados e pensionistas — de mensalidades de entidades, como associações e sindicatos — estão suspensos desde o fim de abril, após a Polícia Federal abrir investigação para apurar irregularidades nas deduções.
“Foi determinado que todo e qualquer tipo de desconto em folha fosse reanalisado. Estamos ando um pente-fino, fechando vulnerabilidades já apontadas por órgãos de controle, em especial a Controladoria-Geral da União, e estamos revendo”, disse.
“O desconto associativo, se retornar — isso está sendo discutido — serão regras totalmente diferentes, e começaremos do zero. Não pode aproveitar um processo que demonstrou tanta fragilidade. Infelizmente, o INSS, que tem mais de 40 milhões de benefícios e é o quinto maior orçamento da América, foi para as páginas policiais. Queremos o INSS como garantidor de direitos, que o segurado se sinta seguro. Para isso, vamos revisar todos os procedimentos para desconto em folha”, garantiu Waller Júnior.
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