Haddad afirma que política de juros do Banco Central não pode jogar o país numa recessão
Em entrevista, ministro da Fazenda disse que inflação se corrige com juros, mas na ‘maneira correta e na dose certa’
Economia|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que é preciso “muita sabedoria” para conduzir a política monetária no país e disse que o BC (Banco Central) “não pode jogar o país numa recessão”. A declaração foi dada durante entrevista a uma rádio pernambucana, nesta sexta-feira (7).
O responsável pela área econômica destacou, também, corrigir a inflação “tem que ser feita da maneira correta”.
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“A política monetária tem que ter muita sabedoria para conduzir. Não pode jogar o país numa recessão, não pode deixar ter problema grave de transações correntes com o exterior”, disse Haddad.
Ele pontuou que, em 2024, o governo corrigiu distorções do déficit público. Porém, o déficit acumulado nas duas gestões anteriores havia sido de quase R$ 2 trilhões.
“Subiu muito desde que Lula deixou a presidência e agora estamos corrigindo. Havia muto benefício fiscal para empresário rico. Os ricos foram muito favorecidos com isenção de impostos e estamos corrigindo isso”, continuou.
O último aumento da Selic
No fim de janeiro, o BC decidiu de forma unânime aumentar a taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto percentual, para 13,25% ao ano, o maior patamar desde agosto de 2023. A alta é a quarta consecutiva desde setembro do ano ado.
A decisão veio alinhada às expectativas do mercado financeiro, que projetava a elevação dos juros. Na entrevista, Haddad foi questionado se a inflação não é corrigida com aumento dos juros e se a medida é positiva.
“Depende da hora e da dose. Se está tendo repique inflacionário, precisa corrigir. E o remédio para corrigir a inflação é muitas vezes aumentar a taxa de juros para inibir a alta dos preços. Mas tudo isso tem que ser feito da maneira correta, na dose certa. É igual antibiótico, não pode tomar a cartela inteira em um dia”, pontuou.
Em um comunicado divulgado logo após o fim da reunião, o Banco Central explicou que a decisão está alinhada com a estratégia de reduzir a inflação para um nível próximo da meta estabelecida pelo comitê para o terceiro trimestre de 2026, que é de 4%. A inflação oficial do país fechou 2024 em 4,83%.
“O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista”, ressaltou documento do banco.
Nova alta esperada
O comitê disse que pode promover uma nova alta de 1 ponto percentual na próxima reunião do colegiado sobre a taxa de juros, o que elevaria a Selic para 14,25% ao ano. O encontro está previsto para março.
“Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião”, continuou a instituição.
A elevação da taxa de juros no país se deu na estreia de Gabriel Galípolo como presidente do BC. O economista, que era secretário no Ministério da Fazenda, teve a indicação de Lula.
Durante os dois primeiros anos de mandato do presidente, o órgão monetário foi alvo de críticas constantes do Palácio do Planalto. O petista acusava o então presidente, Roberto Campos Neto, indicado na gestão Bolsonaro, de atuar contra o país, mantendo a taxa básica de juros alta para prejudicar a economia brasileira.
Lula, por sua vez, afirmou que o aumento na taxa de juros era esperado e que o novo presidente do BC “não poderia dar um cavalo de pau no mar, em um mar revolto, de uma hora para outra”.
Segundo o presidente, “já estava praticamente demarcada a necessidade da subida de juros pelo outro presidente [Roberto Campos Neto], e Galípolo fez aquilo que entendeu que deveria fazer”.