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R7 Entrevista

‘Quem não se interessa pelas novas gerações está perdendo tudo’, diz Camila Fremder sobre escutar a Geração Z

Em entrevista exclusiva ao R7, a escritora e influenciadora fala sobre a importância de não perder o interesse no novo e o formato de podcast no Brasil

Entrevista|Cecília Marin*

Escritora, roteirista e podcaster Camila Fremder (Reprodução/Instagram/@cafremder)

Você sabia que o Brasil é o país que mais consome podcasts no mundo? De acordo com uma pesquisa realizada pelo Statista Consumer Insights, entre julho de 2023 e junho de 2024, 51% dos brasileiros escutam podcasts pelo menos ocasionalmente. Os números mostram que o formato vem ganhando força, seja em áudio ou vídeo.

Em entrevista exclusiva ao R7, a roteirista, escritora, e influenciadora Camila Fremder, dona do podcast ‘É noia minha?‘, revela como foi levar suas ideias para o áudio: “Eu estava em uma fase consumindo muito podcast. Fiquei com vontade e enxerguei ali um formato que era basicamente transformar as minhas crônicas em pauta”.

Em 2024, Camila começou a viralizar no TikTok, rede majoritariamente utilizada por jovens. Lá, ela encontrou um público que ou a consumir seu conteúdo, e acabou migrando para o podcast.

“Às vezes, precisamos entender o que temos a nosso favor. Muita gente vê negativamente a idade, eu vejo positivamente. Se eles [os mais jovens], estão interessados em saber como era nos anos 90, 2000, eu estava lá, posso contar”, afirma.


Ao citar dados da própria audiência, Camila conta que, no TikTok, mais de 50% do seu público têm entre 18 e 24 anos. Já no Instagram, outra rede em que a influenciadora está muito presente, a faixa etária cresce um pouco e alcança pessoas de 24 a 34 anos.

Antes de se aventurar pelo mundo dos podcasts, Camila já gostava muito de ler e escrever. Ela foi colunista e roteirista. Assim, ou a roteirizar suas “noias”, colocando no papel suas ideias e as transformando em áudio, que levaram à criação do podcast.


Camila Fremder ainda comenta sobre seu interesse genuíno em ouvir e entender a “Gen Z” — nascidos entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2010. Para ela, não perder interesse no novo é essencial.

“Se você está preso dentro de um universo que ficou no ado, você vai ficar mais mal-humorado e angustiado com o que chega de novidade. Tenho muito interesse pelas gerações mais novas e acho que quem não tem, está perdendo tudo”, reflete.


Criadora de conteúdo Camila Fremder (Reprodução/Instagram/@cafremder)

Confira a entrevista:

R7 - Você sempre gostou de ler e escrever? Como e quando viu uma oportunidade de trabalhar com esse lado mais criativo?

Camila Fremder - Sempre gostei de ler e escrever. Tenho uma mãe que é muito leitora, então era uma parte da minha rotina. Na hora de dormir, quando eu era criança, ela lia para mim e, depois que comecei a me alfabetizar, eu mesma lia os meus livros. Era uma rotina nossa, antes de dormir, cada uma pegava um livro, eu deitava na cama dela e a gente lia juntas.

Mas acho que descobri que gostava de escrever mais adolescente, com uns 16 anos, quando comecei uma “coisa”, que não chegava a ser uma espécie de diário, mas eram umas histórias que tinham acontecido e que eu gostava de deixá-las escritas numa pasta.

Depois, perto dos 20, eu era a que mandava e-mails engraçados para uma turma de amigos. A gente saía, eu ia em festas e fazia um resumo da noite por e-mail. Também preferia escrever na terapia, eu tinha muita dificuldade em chegar lá e falar as coisas que tinham acontecido, então combinei com ele [o terapeuta], na época, de escrever e-mails. Numa dessas, ele falou: “Você escreve de um jeito legal, acho que deveria fazer um blog”.

R7 - Como você lida com o bloqueio criativo? Tem alguma estratégia para sair dele?

Camila Fremder - Isso acontece mais quando vou escrever livros. No meu blog de crônicas era ao contrário a minha sensação, eu tinha uma necessidade de escrever e não uma busca por inspiração. Tinha época que eu subia crônicas todos os dias, então todos os dias eu tinha vontade de escrever alguma coisa.

Agora quando você tem um livro, com um tema X, prazos… aí acho que entra mais o bloqueio criativo. Basicamente, o que fazia na época que escrevia mais livros, era separar dias para escrever e, naqueles em que não estavam rendendo muito, eu usava mais como pesquisa.

R7 - Você acha que o formato só áudio faz com que o ouvinte se sinta mais conectado com o criador?

Camila Fremder - Acho que depende. O que acontece no podcast em áudio e no podcast em vídeo, que talvez seja algo a ser observado, é que o podcast em vídeo, na maioria das vezes, é interpretado como um formato televisivo, e as pessoas levam o vício delas da TV, que é uma coisa hiperproduzida, cabelo, maquiagem, look, para o podcast e, com isso, se perde muito.

Se você entrar nos vídeos do “Noia”, eu tô sempre como você vai me ver na rua. Porque acho que o ouvinte tem que ter a sensação de que estou ali para conversar com ele. Não que eu seja uma grande estrela que está sentada ali para ele ficar reparando em tudo, entretê-lo. Estou ali para conversar, trocar uma ideia.

Então quando mudei para o vídeo, tive uma preocupação de que fosse um cenário “ok”, sem grande loucura, continuar misturando convidados que são grandes com pessoas menores,continuar trazendo pessoas do meu círculo social, que as pessoas brincam que é o “CamilaVerso”.

R7 - Por qual motivo você acha que a geração mais nova gosta de te ouvir e se importa com suas opiniões?

Camila Fremder - Acho que é porque não perdi o interesse na geração mais nova. É muito triste o que acontece quando as pessoas vão ficando mais velhas. Elas vão ficando muito soberbas de si, é o tempo inteiro aquela coisa de “Aí, na minha época...”, aquele saudosismo de achar que a geração dela era a melhor, a maneira que a gente trabalha era melhor, mas é simplesmente porque a pessoa parou de querer se atualizar e ficou presa numa época que não existe mais.

Acho que eles [geração mais nova] percebem. Se eu falo alguma coisa, é num lugar de carinho, interesse, curiosidade, respeito. Acho que essa geração mais novinha é muito mal-interpretada, muito atacada.

Camila Fremder, criadora do podcast "É noia minha?" (Reprodução/Instagram/@cafremder)

R7 - Você transita muito bem entre as gerações. No TikTok, é conhecida como “mãe”, por dar conselhos para os mais jovens. Para você, por que é tão importante falar sobre a “vida real”?

Camila Fremder - Quanto mais velho você vai ficando, mais outras bolhas você vai conhecendo. Acho que, hoje em dia, o que acontece é que a gente consegue identificar no dia a dia, na rua, muito fácil, as pessoas que estão cronicamente online. Tem um jeito de se vestir, falar, procedimentos… Mas acho que isso pode ser muito bom e muito ruim, pode te limitar culturalmente falando, de você evitar se aprofundar em alguma coisa porque aquilo não faz parte do seu meio, mas, ao mesmo tempo, talvez você não se sinta tão sozinho como era na minha adolescência.

Se eu fosse a única adolescente mais emo da turma, ia me sentir muito solitária, diferente se eu entrasse em uma rede social e encontrasse uma comunidade dos emos, que se vestem como eu, que são apaixonados pela mesma cantora que eu. Acho que é importante saber dosar.

R7 - Agora, com 40 anos, você diz que tem um olhar de carinho com a Camila mais novinha… com 30, era um olhar mais de julgamento. Você poderia aprofundar mais como está sendo esse período da sua vida?

Camila Fremder - Quando eu tinha 20 e pensava em uma mulher de 40, eu falava: “Que coisa distante, como deve ser diferente”. Mas eu não estou sentindo uma grande mudança… Com 20 e poucos, sinto falta de uma coisa que é uma noção mais crua das coisas, o que me dava mais liberdade para ser cara de pau e querer coisas muito fora do que eu tinha planejado. Eu tinha isso do “Eu quero acontecer e eu vou fazer o que for”.

R7 - E com 50/60, como você acha que vai ser? Está animada?

Camila Fremder - Eu acho que sou muito realista! Não digo que eu acho que é fácil envelhecer, mas acho que é muito mais difícil se você luta contra uma coisa que é inevitável.

Estou me preparando para isso, acho que fui uma jovem interessada aos 20, uma adulta responsável aos 30 e estou sendo uma adulta consciente aos 40 para poder chegar aos 50/60 da melhor maneira que der, não só profissional e financeiramente, de sempre ter tido preocupação em guardar algum dinheiro e planejar minimamente o futuro, mas digo fisicamente também.

Escritora, roteirista e podcaster Camila Fremder (Reprodução/Instagram/@cafremder)

R7 - O que fez você começar a ser mais presente no TikTok? Houve uma resistência de início com uma rede nova, que tem um público mais jovem?

Camila Fremder - Sim. Eu acho que as pessoas falavam muito sobre a “dancinha” do TikTok, e eu tenho essa coisa de não gostar de comprar fácil o que estão me vendendo. Prefiro pagar para ver. Falei: “Não, eu vou entrar lá (na rede)”. Coincidiu também com a minha enteada estar começando a usar, porque é adolescente. Então fui dar uma inspecionada, mais para entender o que ela estava consumindo… Aí me surpreendi com o conteúdo que encontrei, muita coisa legal.

Encontrei uma baita ferramenta de pesquisa que eu não estava usando e me senti extremamente burra por isso, por não estar lá, usando aquela ferramenta gigantesca de pesquisa.

Fui sentindo o que seria interessante. Então fui indo por aí e foi bem rápido, entendendo o tipo de conteúdo que iria fazer lá, e também o que eu ia consumir. Porque acho que toda rede social, por mais que você seja criador de conteúdo, você consome também. E o algoritmo é ótimo, ele foi me entendendo muito bem.

R7 - Você acha que a resistência de algumas pessoas mais velhas às novas mídias vem mais da dificuldade técnica ou de um desinteresse real?

Camila Fremder - Acho que é mesmo uma falta de leitura do que é aquilo. E, às vezes, eu entendo até… Poxa, já tem WhatsApp, já tem Instagram, já viveu a época do Facebook, aí chega mais uma coisa…

R7 - Você acha que existe uma “obrigação” de estar atualizada com as novas plataformas ou dá para sobreviver na internet sem entrar em todas as tendências?

Camila Fremder - Acho que, para mim, é muito vantajoso saber o que está acontecendo porque, como tenho um podcast que fala sobre tudo, cultura, comportamento, acho que é ferramenta de pesquisa mesmo. Eu estaria sendo muito preguiçosa se não fosse entender o que está rolando lá.

R7 - Tem vídeos seus que renderam memes. Como é ter virado meme? Você usa eles com seus amigos?

Camila Fremder - Nossa, sim! Na época, eu recebia de pessoas muito “nada a ver” a minha cara, e foi muito engraçado. Acho que fui muito sortuda em tudo, nesse vídeo, nesse meme que foi muito bem aceito tanto pelos influenciadores de conteúdo, como pelas pessoas que consomem.

Eu não senti que foi aquela viralizada que você dá, mas que também sofre com gente enchendo seu saco, gente brava, indireta… Então eu só ganhei.

* Estagiária do R7, sob supervisão de Maíra Pracidelli.

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