Tarifaço de Trump marca redirecionamento do comércio internacional; veja repercussões
Cumprindo mais um o da sua agenda, Trump anunciou um novo pacote de tarifas comerciais recíprocas sobre diversas nações
Internacional|Giovana Cardoso, do R7, em Brasília

Os recentes anúncios tarifários do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aumentaram o cenário de incerteza global, gerando maior tensão entre as principais potenciais mundiais. Em meio às imposições do norte-americano e de ameaças ao multilateralismo, líderes globais se viram obrigados a retaliar e avaliar as novas taxas, o que pode causar um redirecionamento do comércio internacional.
Na quarta-feira (2), cumprindo mais um o da sua agenda protecionista, Trump anunciou um novo pacote de tarifas comerciais recíprocas sobre diversas nações, incluindo o Brasil. A medida entra em vigor neste sábado (5) e estipula uma linha de base de 10% nas taxas, que vai atingir países como Brasil, Costa Rica e Turquia. Entretanto, nações como China, Vietnã, Suíça e África do Sul foram penalizados com tarifas maiores, de até 46%.
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A professora de relações internacionais da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Regiane Bressan explica que a imposição unilateral por parte dos EUA contraria as regras da OMC (Organização Mundial do Comércio), o que acaba enfraquecendo o sistema multilateral do comércio. “Essa postura protecionista vai levar a retaliação por parte de outros países, o que desencadeia em guerras comerciais e prejudica também o comércio global”, opina.
Bressan diz que as decisões de Trump contribuem para a aproximação de diferentes mercados, como o caso do Brasil e União Europeia. “Vai ser uma grande movimentação no tabuleiro do comércio internacional, e os países terão que fazer novas parcerias. A China, eu acho que está mais presente aqui. Eu acho até que tem mais chance agora de a União Europeia estar muito aqui presente, e, ao mesmo tempo, de os Estados Unidos evitarem uma polarização direta com o ocidente”, completa.
Veja repercussão entre os países
Brasil
Ao Brasil, Trump decidiu aplicar a menor taxa, de 10%. Após o anúncio, o governo federal disse avaliar “todas as possibilidades de ação para assegurar a reciprocidade no comércio bilateral”. Na quinta-feira (3), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a medida e disse que o país “não bate continência para nenhuma outra bandeira”.
“Tomaremos todas as medidas cabíveis para defender as nossas empresas e nossos trabalhadores brasileiros. Tendo como referência a lei da reciprocidade econômica aprovada ontem pelo Congresso Nacional e as diretrizes da Organização Mundial do Comércio”, afirmou.
O economista Hugo Garbe entende que a reação brasileira deve ser “multinível e estratégica”, focando em um diálogo técnico, com propostas de exceções tarifárias baseadas em complementaridade comercial, não em competição direta.
“O argumento de Trump de que ‘o mundo foi injusto com os EUA’ é politicamente retórico, mas economicamente inconsistente. Os EUA são uma das economias que mais se beneficiaram do sistema multilateral de comércio desde a Segunda Guerra Mundial”, diz Garbe.
Apesar do cenário de incerteza, as medidas do líder americano podem redirecionar o fluxo de comércio do Brasil, explica Regiane Bressan. As tarifas abrem espaço para o governo brasileiro buscar outros países para trocas comerciais, o que pode favorecer acordos como o Mercosul-União Europeia.
“O Brasil vai buscar outros países para exportar, e isso redireciona o fluxo de comércio para outras nações ou blocos. Aliás, a gente vai falar muito sobre o acordo do Mercosul com a União Europeia, porque a própria União Europeia mostra-se interessada em fazer esse acordo”, analisa Bressan.
China
Com a decisão de Trump, a China, que já vinha sendo alvo dos EUA, ará a ter tarifas de 54%, incluindo uma taxa adicional de 34%. Como resposta, o país anunciou na sexta-feira (4) que vai impor taxas de 34% sobre os produtos dos Estados Unidos. Além disso, o governo chinês vai restringir exportações de materiais raros e proibir a exportação de dupla utilização, civil e militar, para 16 empresas americanas.
Antes do anúncio da retaliação, o Ministério do Comércio da China emitiu uma nota informando que o país tomaria “contramedidas resolutas para salvaguardar seus direitos e interesses legítimos”. No texto, o órgão oficial argumentou, ainda, que as medidas adotadas por Trump desconsideram o equilíbrio de interesses negociado pelos países. Além do “fato de que os EUA há muito se beneficiam substancialmente do comércio internacional”.
Vale ressaltar que o desempenho e reação da China durante a pressão criada pelos EUA pode afetar o Brasil, segundo especialistas. Apesar do entendimento de que a agenda protecionista de Donald Trump pode ter um reflexo positivo no mercado brasileiro, principalmente devido a uma maior aproximação do Brasil com chineses e europeus, uma possível recessão no país norte-americano não teria o mesmo efeito.
União Europeia
O anúncio de Trump também gerou repercussão negativa entre os países da União Europeia. A presidente do bloco, Ursula von der Leyen, disse que as tarifas seriam um “grande golpe para a economia mundial”, afetando não só nações mais vulneráveis, mas também os consumidores.
Assim como a China, a União Europeia também afirmou estar preparando contramedidas “para proteger os interesses e os negócios caso as negociações fracassem”.
Apesar do apoio da direita europeia para reeleição de Trump, parlamentares ligados ao bloco econômico também vêm fazendo duras críticas ao presidente dos EUA. Alice Weidel, vice-líder do partido de ultra direita na Alemanha, criticou as tarifas e disse que o aumento prejudica o livre comércio.
“A Alemanha e a Europa devem fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar isso. Se são justificados, é secundário — o que é crucial é mostrar aos Estados Unidos que um acordo é o melhor caminho para ambos os lados.”
A Espanha anunciou um pacote de 14,1 bilhões de euros para mitigar os efeitos negativos da guerra comercial. Segundo o primeiro-ministro do país, Pedro Sánchez, as tarifas não são recíprocas, e ninguém se beneficiará com a medida. “Mas não ficaremos de braços cruzados. A UE reagirá com proporcionalidade, unidade e força”, disse.
Canadá
Um dos principais parceiros comerciais dos EUA, o Canadá não foi alvo do tarifaço mais recente porque já tinha recebido taxas antes disso. Em retaliação, o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, anunciou uma tarifa de 25% sobre todos os veículos importados dos EUA.
“Todas as receitas dessas tarifas serão usadas para apoiar nossos trabalhadores automotivos canadenses e sua indústria”, disse Carney. Segundo ele, os veículos que estão em conformidade com o USMCA (acordo Estados Unidos-México-Canadá) também sofrerão com a taxa.
O Canadá foi um dos primeiros países a ser taxado por Trump. Em março, produtos importados pelos EUA do Canadá e do México aram a ser tarifados em 25%.
Tarifaço do Trump: repercussão global - União Europeia
México
Assim como o Canadá, o México não foi afetado pelas tarifas anunciadas nesta semana. Entretanto, na contramão dos demais países, a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, avaliou como “positiva” a decisão de Trump. O entendimento parte de que a nação não recebeu uma tarifa adicional, além dos 25% impostos em março.
Diferente do governo canadense, bens incluídos no USMCA permanecem isentos de tarifas, com características específicas para as indústrias automotiva, siderúrgica e de alumínio. Até o momento, a líder mexicana não falou sobre uma eventual retaliação.
“Acreditamos que ainda podemos alcançar melhores condições, uma condição preferencial para a integração de empresas automotivas entre o México e os Estados Unidos, seja o capital original dessas empresas americano, alemão, sul-coreano ou de alguma outra nacionalidade”, disse.
Austrália
Um dos países que receberam a menor tarifa, a Austrália criticou as ações de Trump, mas disse estar preparada para as medidas. Nas redes sociais, o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, disse que as taxas são “injustificadas”, e que o governo defenderá o país.
No seu discurso, Albanese afirmou que a decisão do líder americano trará incerteza para a economia global e vai elevar os custos para os americanos. Entretanto, o australiano afirma que o governo não vai retaliar.
Japão
A tarifa adicional de Trump ao Japão foi de 24%. O país asiático diz analisar os possíveis impactos a economia do país. O governo japonês entende que as medidas do líder americano são “extremamente lamentáveis” e pede para que Trump as reconsidere.
Ainda não se sabe como os números para cada país foram calculados, inclusive aos países taxados, informou o Japão. Segundo a imprensa japonesa, o primeiro-ministro, Shigeru Ishiba, promete “unir todo o país” em resposta ao que ele entende como “crise nacional”.
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