Irã acelera enriquecimento de urânio e atinge capacidade para produzir até nove bombas
Relatório confidencial da AIEA ainda revelou que o país realizou testes secretos; Teerã nega que o programa tenha fins militares
Internacional|Do R7

Um relatório confidencial da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) revelou que o Irã conduziu atividades nucleares secretas com material não declarado e acelerou significativamente a produção de urânio enriquecido, aproximando-se do limite necessário para fabricar armas nucleares.
O estoque total de urânio enriquecido do Irã chegou a 9.247 kg, um aumento de 953,2 kg em relação à última atualização. A maior preocupação da AIEA, porém, recai sobre o volume de urânio enriquecido com pureza superior a 60%, que saltou de 133,8 kg para 408,6 kg. O patamar identificado é próximo dos 90% exigidos para a produção de uma bomba nuclear.
Segundo a própria definição técnica da AIEA, 42 kg de urânio com esse grau de pureza são suficientes para fabricar uma arma nuclear. Na prática, isso significa que o Irã já possui material suficiente para produzir até nove ogivas. Em dezembro de 2024, o país teria capacidade para fabricar quatro.
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O documento, entregue ao Conselho de Governadores da agência, composto por 35 países, e obtido por agências internacionais como Reuters, AFP e AP, apresenta detalhes inéditos sobre o programa nuclear iraniano. Segundo a AIEA, o Irã não apenas omitiu informações sobre três locais de testes nucleares, como também armazenou material radioativo em instalações não declaradas entre 2009 e 2018.
As descobertas indicam que o Irã realizou experimentos com material nuclear em três locais não declarados. São eles: Lavisan-Shian, Varamin e Turquzabad.
Em Lavisan-Shian, localizado em Teerã, a AIEA identificou o uso de um disco de urânio metálico em testes com fontes de nêutrons acionadas por explosão. O procedimento é típico de detonadores de armas nucleares. O relatório também detalha que esses testes ocorreram ao menos duas vezes em 2003.
A AIEA concluiu que esses três locais, e possivelmente outros ainda não revelados, fizeram parte de um programa nuclear estruturado e não declarado pelo Irã, ativo até o início dos anos 2000. Além disso, Teerã teria utilizado material nuclear não declarado nas atividades realizadas nesses locais. Equipamentos altamente contaminados também teriam sido armazenados em Turquzabad.
Apesar de continuar cooperando em inspeções rotineiras, o governo iraniano tem dificultado o trabalho da AIEA. O relatório afirma que a cooperação de Teerã permanece “menos do que satisfatória” em diversos aspectos. O país teria limpado os locais antes da chegada dos inspetores, o que comprometeu a verificação dos dados. A AIEA ainda busca explicações sobre os vestígios de urânio encontrados em dois dos quatro locais sob investigação.
Repercussão internacional
A escalada preocupa autoridades internacionais. “Este aumento considerável na produção e acumulação de urânio altamente enriquecido é motivo de grande preocupação. O Irã é o único país não detentor de armas nucleares que está produzindo esse tipo de material”, afirma o relatório.
O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, fez um apelo direto às autoridades iranianas para que forneçam respostas técnicas críveis e cooperem de forma plena e eficaz com a agência. Em 28 de maio, representantes iranianos e a AIEA voltaram a se reunir, mas sem avanços significativos.
As conclusões do relatório devem aumentar a pressão dos Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha sobre o Conselho da AIEA. Os quatro países pretendem apresentar, na reunião marcada para a semana de 9 de junho, um projeto de resolução declarando que o Irã violou suas obrigações de não proliferação nuclear.
Segundo diplomatas ouvidos pela Reuters, esta será, possivelmente, a primeira vez em quase duas décadas que o Irã poderá ser fomalmente acusado de descumprir acordos de não proliferação nuclear.
Se aprovada, a resolução poderá abrir caminho para que o caso seja encaminhado ao Conselho de Segurança da ONU. O Irã, por sua vez, já reagiu negativamente a medidas semelhantes no ado, acelerando ainda mais o programa nuclear após represálias do conselho.
Teerã nega que o programa tenha fins militares e afirma que busca apenas domínio da tecnologia nuclear para fins pacíficos. O país também exige a suspensão de sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos.
A retomada de um acordo nuclear, como o firmado em 2015, segue travada. Na semana ada, uma rodada de negociações entre autoridades dos EUA e do Irã em Roma terminou sem avanços. Segundo o governo iraniano, o chefe da delegação americana deixou as conversas.
O presidente Donald Trump adotou um tom duro ao comentar o caso. Na última sexta-feira (30), ao lado de Elon Musk em uma coletiva de imprensa, Trump declarou que “não negocia com quem mantém armas nucleares” e voltou a afirmar que não descarta o uso da força se a diplomacia fracassar.
O governo de Israel também reagiu. Em nota divulgada neste sábado (31), o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que o programa nuclear do Irã não tem justificativa civil e que o nível de enriquecimento de urânio só é compatível com países que buscam ativamente produzir armas nucleares. “A comunidade internacional deve agir agora para deter o Irã”, diz o comunicado.
O relatório da AIEA, com 22 páginas, será discutido pelo Conselho de Governadores na próxima reunião em Viena, sede da agência. Se as potências ocidentais conseguirem aprovar a resolução, o Irã poderá enfrentar novas sanções e um isolamento diplomático mais severo.
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